Fragmentos da História Local: A realidade dos expostos ou enjeitados
Atualizado em 21/04/2022
Os expostos ou enjeitados eram crianças abandonadas pelos progenitores, filhos de pais incógnitos que não os podiam criar ou que não os tinham desejado. Era uma prática inscrita no mundo dos costumes, apoiada pela caridade e, que se tornou num problema social.
A roda mecanismo originário da Idade Média tinha a forma de um tonel giratório que unia a rua ao interior da casa (hospital, igreja ou convento). Constituía-se por um cilindro de madeira vertical, giratório e com uma abertura suficiente para nele se poder depositar uma criança. Este cilindro ocupava uma abertura na parede do edifício, onde se recolhiam os expostos. A portadora do enjeitado não tinha mais que depositá-lo na roda e fazer esta girar meia volta e tocar uma sineta, pois no interior alguém receberia a criança, sem poder ver quem a trazia.
A roda foi instalada para evitar a prática do infanticídio e garantir o anonimato dos pais, sobretudo das mulheres que haviam cometido adultério ou comprometido a sua honra.
Através da documentação existente no Arquivo Municipal, confirma-se que no concelho existiram, pelo menos, três rodas dos expostos. Duas dessas rodas estavam na vila de Redondo e a terceira na vila de Montoito.
A primeira roda existente na vila de Redondo situar-se-ia na Rua do Castelo junto ao Hospital. Terá existido desde 1740 e mais tarde substituída por outra roda no prédio do Centro Infantil de Nossa Senhora da Saúde, na altura designado por Recolhimento de Nossa Senhora da Saúde, anexo à Igreja.
A ordem para que fosse estabelecida a Roda em Montoito data de 21 de Outubro de 1823 e o último registo feito à mesma data de 1829. O que totaliza apenas seis anos de existência. Este curto espaço de tempo deve-se ao facto de ser uma zona de grande índice rural e a prática constante era a colocação destas crianças enjeitadas às portas das casas dos montes.
A documentação apresentada faz parte da Série Autos de Investigação e Escritos que acompanham os expostos, assim se designam os bilhetes que amiúde acompanhavam o exposto, aquando da colocação na roda. Ainda que escritos deficientemente, uma vez que a maior parte da população era pobre e analfabeta, continham indicações e pedidos: nome pretendido; referência ao batizado, se já tivesse ocorrido, ou pedido para lhe ser ministrado; indicação da intenção de o recuperar mais tarde; pedido para a criança ser bem tratada; sugestão para padrinho, entre outros.
Estes escritos relatam uma realidade vivida e presenciada durante largos anos no concelho de Redondo e no país.
O Decreto de 21 de Novembro de 1867 extingue efetivamente as rodas devido ao aumento elevado do número de expostos. Assim, em substituição das rodas abolidas, decreta-se a criação de hospícios, destinados a admitir não só expostos mas também crianças abandonadas (com pais conhecidos) e indigentes. Mudava-se deste modo, o serviço público de assistência à infância. Há referência ao Hospício de Redondo (Recolhimento de Nossa Senhora da Saúde) desde 1873 até ao ano de 1886.
Em termos estatísticos e históricos, verifica-se a existência de expostos neste concelho desde 1740 a 1886.
Cota- PT/CMRDD/P/A/009/Cx001